Sobre mudar os móveis e os sentimentos!
A
Mulher de Fé decidiu fazer mudanças na posição dos móveis de sua casa.
Ela arrasta o sofá para um lado, a estante para outro, muda a posição da
mobília do quarto e reorganiza cada coisa da maneira que entende ser a
ideal. Neste momento ouve a voz de sua alma que fala baixo ao coração.
“Você busca mudanças e está tentando fazer isso encontrando a posição
ideal para seus móveis. Não há problemas em mudar a mobília nem em
procurar mudanças para sua vida, mas o que busca não será encontrado
arrastando tudo isso”. A Mulher de Fé continua seu trabalho que agora já
está no reposicionamento de coisas em gavetas. Sua alma volta a falar.
“Você tem estado triste, carente e solitária nos últimos dias e, claro,
deseja que esse momento acabe, mas para isso precisa encarar o problema
de frente. Mudar os móveis não vai mudar nada se você não estiver
disposta a encarar a realidade”. Neste momento a Mulher de Fé senta-se
em sua cama e chora. Está cansada da vida nos últimos dias e não tem
encontrado nenhum apoio. Todos parecem estar ocupados demais para
perceberem o seu momento. Mas ela sabe que sua alma tem razão. Está
buscando mudanças no interior de sua casa, quando na verdade deveria
buscar estas mudanças em seu próprio interior. Ela olha para a mobília
reposicionada e percebe que ficou bom. Mas será capaz de mudar também
seus sentimentos? Será capaz de livrar-se deste sofrimento? Esperamos
que sim.
Thiago Mendes


Já
são quase dez horas da noite e ainda estou no trabalho olhando para a
janela vazia. Tão vazia quanto a minha alma. Não gostaria de ter que
voltar para casa. Mas voltar para onde? Lá encontrarei uma mulher que a
cada dia está mais distante, fria e que criou para si um universo
próprio onde não sou bem vindo. E para ser sincero gosto de não ter que
habitar ali. Sei que ela sofre tanto quanto eu, mas entre nós cresceu
uma muralha fortificada demais para que sejamos capazes de derrubá-la.
Eu acreditava que o amor era progressivo, mas comigo foi diferente: a
cada dia que passa vou assistindo o nosso se acabando. Hoje os diálogos
não passam de técnicos “boa noite, bom dia, o jantar está pronto, até
logo”, mas mesmo assim procuramos manter o respeito e, no mínimo uma
aparência de que tudo vai bem. Não! Não temos noites de amor há bastante
tempo, mas confesso que aos poucos fui aprendendo a conviver assim.
Meus filhos? Eles também estão ocupados demais com aquilo que chamam de
“a minha vida”, mas eu os compreendo e não quero atrapalhá-los. Não se
preocupe, o fato de eu estar olhando para a janela não significa que
exista algum risco - sou covarde demais para isso. Bom, é hora de ir.
Vou levar comigo novamente aquela esperança de que desta vez será
diferente. Na verdade todos os dias vou imaginando que hoje ela estará
sorridente me esperando, reclamando do quanto demorei e com banho e o
jantar preparados. Delírio de gente que vai ficando velha.